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Etarismo

Etarismo feminino: a carreira da mulher tem data de validade?

Tempo de leitura: 10 minutos

O etarismo, um termo que denota o preconceito baseado na idade, é uma questão que permeia não apenas a sociedade em geral, mas também o ambiente corporativo. Caracterizado também como estereótipo e discriminação pela Organização Mundial da Saúde (OMS), atualmente o etarismo é agravado pela interseccionalidade, especialmente quando se trata da carreira das mulheres. 

No Brasil, pesquisas indicam que 87% das mulheres acreditam ter menos oportunidades do que os homens no ambiente corporativo, com preocupações específicas sobre como seu gênero e idade podem se tornar obstáculos em suas carreiras. As disparidades de gênero no local de trabalho são há muito conhecidas: diferenças salariais, falta de representatividade em cargos de liderança, acesso limitado a oportunidades de desenvolvimento e o estigma associado à maternidade são apenas alguns dos desafios enfrentados pelas mulheres.

As estatísticas criam uma espécie de paradoxo: as mulheres tendem a viver mais e a estudar mais do que os homens. Por exemplo, em 2022, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicava que a expectativa de vida no país era de 72 anos para os homens e 79 para as mulheres. Além disso, o estudo “Estatísticas de Gênero: Indicadores Sociais das Mulheres no Brasil do Instituto, aponta que 21,3% das mulheres com 25 anos ou mais têm ensino superior, enquanto entre os homens, o índice é de 16,8%. 

Antes da pandemia, elas eram maioria entre os empregados com ensino superior no mercado de trabalho brasileiro. No entanto, apesar desses números favoráveis, persiste a percepção social de que a carreira de pessoas maduras, sobretudo da mulher, teria um prazo de validade.

 

Interseccionalidade: uma questão que não pode ser ignorada

Questões como etarismo, machismo e racismo são desafios que se cruzam no mercado de trabalho. O levantamento conduzido pela EY Brasil em parceria com a Maturi, a principal empresa brasileira especializada em recolocação e desenvolvimento profissional para pessoas com mais de 50 anos, revelou que o desemprego há mais de um ano atinge 32% das mulheres 50+ e apenas 19% dos homens da mesma faixa etária.

Quando consideramos a dimensão racial desse cenário, a situação se agrava ainda mais para as pessoas negras e pardas, com 37% desempregadas por mais de dois anos. Nesse sentido, torna-se evidente o fator de interseccionalidade intrínseco nessas questões enfrentadas pelos profissionais maduros em todas as suas camadas de diversidade. O etarismo, o machismo e o racismo se entrelaçam como desafios no mercado de trabalho, exigindo uma abordagem ampla e inclusiva para superá-los.

 

A  longevidade no Brasil e os novos padrões de vida 45+

O etarismo afeta tanto homens quanto mulheres, mas a questão assume contornos particulares quando analisamos a interseccionalidade de gênero como abordado no último tópico. Com o envelhecimento da população e a busca por profissionais experientes, as organizações estão reconsiderando estereótipos relacionados à idade. 

Aos poucos, vemos a diversidade etária se tornando uma realidade nas empresas. A expectativa é que o Brasil se torne um dos países com mais pessoas de terceira idade disponíveis para o mercado de trabalho até 2050. Com a longevidade aumentada, foram ampliados também os debates sobre a ressignificação do processo de envelhecimento, em termos de mercado de trabalho e sociedade. No levantamento “Global Learner Survey” realizada pela Pearson em parceria com a Morning Consult que ouviu 6 mil mulheres nos Estados Unidos, Reino Unido, Brasil, México, Índia e China, 65% afirmaram que a discriminação de idade, o etarismo, é uma prioridade entre as questões que devem ser combatidas. 

Dados do IBGE, compilados na pesquisa “Longevidade” em parceria com a Fundação Dom Cabral, apontam que o Brasil está rumo a se tornar o sexto país mais velho do mundo. Estima-se que, em três décadas, mais de 57% da população economicamente ativa tenha mais de 45 anos. Em um passado não tão distante, a aposentadoria aos 50 anos era comum, mas essa realidade mudou drasticamente. 

Essa mudança demográfica sugere que o país terá uma grande parcela de profissionais maduros disponíveis para o mercado de trabalho. Até 2050, cerca de 30% da população brasileira terá mais de 60 anos. Com isso, a vida útil do trabalho está se estendendo, e a capacidade de aprender e se adaptar tornou-se fundamental. 

 

Do combate ao etarismo à ressignificação do envelhecimento

A pesquisa “Global Learner Survey” realizada pela Pearson em parceria com a Morning Consult, revelou que 74% das mulheres entrevistadas consideram o preconceito e a discriminação pontos difíceis de enfrentar ao buscar novas oportunidades de trabalho. No entanto, há uma mudança perceptível no paradigma do envelhecimento, com mais pessoas maduras demonstrando disposição para continuar trabalhando. 

Com o aumento da longevidade, crescem também os debates sobre a ressignificação do envelhecimento, tanto no mercado de trabalho quanto na sociedade em geral.  O Censo Demográfico de 2022 chamou a atenção para o fato de que o número de pessoas com idade igual ou superior a 65 anos aumentou 57,4% em 12 anos no Brasil. Em 1980, essa faixa etária representava apenas 4% da população. 

Nesse cenário em transformação, as empresas devem reconhecer e valorizar a experiência dos profissionais mais maduros, abrindo espaço para talentos de todas as idades. A busca por líderes experientes é imperativa, e as organizações não podem ignorar as oportunidades que profissionais com mais de 40 ou 50 anos podem oferecer. 

 

Etarismo feminino: o valor da diversidade etária nas empresas

A contratação de talentos femininos maduros proporciona uma série de benefícios às empresas. Essas profissionais trazem consigo uma tomada de decisões mais madura, habilidades avançadas de liderança e comunicação, capacidade de resolver problemas de forma criativa, adaptabilidade a novas formas de contrato de trabalho, resiliência diante dos desafios, conhecimento especializado e a capacidade de realizar múltiplas tarefas.

Os números recentes refletem uma tendência otimista. Segundo o relatório da KPMG “Global Female Leaders Outlook 2023”, que analisou a percepção das lideranças femininas em contextos de crise em todo o mundo, a maioria das líderes entrevistadas (81%) tem mais de 40 anos. No Brasil, 73% das líderes estão nessa faixa etária. Essas líderes ocupam uma variedade de posições, desde fundadoras até membros de conselhos, supervisoras, vice-presidentes, CEOs e outras posições de alto escalão.

Neste cenário, a diversidade etária possibilita a coexistência de diferentes gerações, como Baby Boomers, membros da Geração X, Millennials e Geração Z, dentro das empresas, muitas vezes atuando na mesma área. Embora essa diversidade traga consigo benefícios como a multiplicidade de ideias e perspectivas, oportunidades de aprendizado e mentoria, e aumento da produtividade, também traz desafios, como estereótipos negativos e conflitos de visão. 

Assim, surge o desafio corporativo de desenvolver métodos de trabalho e promover uma cultura que valorize a convivência e a colaboração entre diferentes gerações.  Além disso, para lidar com essas questões, o comprometimento das lideranças inclusivas é fundamental. Iniciativas como “Elas Lideram“, do Pacto Global da Organização das Nações Unidas (ONU), que visa reunir 1.500 empresas comprometidas com a paridade de gênero na alta liderança até 2030, demonstram a importância de promover uma governança diversificada e inclusiva para impulsionar o progresso e a inovação dentro das organizações.

Atualmente, nós da AMIG – Associação de Mulheres da Indústria do Gaming – fornecemos selos que autenticam empresas comprometidas com a equidade de gênero. Promovemos uma cultura equitativa que busca reconhecer o apoio das empresas na ascensão das mulheres dentro das organizações. Ao adotar políticas inclusivas e demonstrar compromisso ativo com a igualdade de gênero, as empresas podem conquistar diferentes níveis de certificação.

Acreditamos que a diversidade etária, sobretudo das mulheres, traz benefícios para as empresas e para a sociedade como um todo.  Junte-se a nós nesse movimento pela transformação e torne-se um apoiador da AMIG!

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